segunda-feira, 11 de maio de 2009

Definindo objetivos...

Para finalizar a série de posts com assuntos que "dão pano pra manga" vou falar um pouco de uma conversa que tive com um treinador sobre torneios abertos, estaduais, nacionais e internacionais, bem como dos objetivos que os tenistas em geral devem ter ao escolherem o tipo de torneio que irão participar.

O meu melhor laboratório e fonte de pesquisa são os torneios de grande expressão como o
Banana Bowl, as etapas dos circuitos Credicard e Unimed e os torneios Futures. São nesses eventos que converso com treinadores, pais, atletas de todas as categorias, enfim com gente que respira tênis 24h por dia.

Foi lá em São Paulo, durante as disputas do
Banana Bowl, que conversei com um renomado treinador (que não vou citar o nome para evitar maiores problemas!) e fiquei empolgado com a forma dele trabalhar com seus tenistas juvenis. Usando um papo aberto e bem realista, ele me contou que antes de colocar um atleta em seu time competitivo tem uma conversa muito franca com o tenista e seus pais. Nesta conversa ele procura saber quais são os objetivos do atleta, a disponibilidade dos pais para que ele alcance seu intuito e à partir daí é que começa a traçar um plano de treinamento e um calendário de torneios para seu tenista.


Segundo ele, se a intenção do tenista é se profissionalizar ou ganhar uma bolsa em uma Universidade fora do país, o caminho usado devem ser os torneios mais fortes, com nível técnico mais alto e com adversários duros de serem vencidos, mas que dão ritmo e contribuem para que seu tenista obtenha mais experiência. Seriam os torneios nacionais e os famosos
COSAT's. Para os tenistas menores e iniciantes, ele orienta que comecem jogando torneios e eventos de clubes e academias, popularmente chamados de "abertos" e em seguida comecem a disputar torneios estaduais, se preparando para as disputas dos torneios nacionais. Na sua opinião, isso deve acontecer quando o tenista tem entre 12 e 14 anos.

Ainda em nossa conversa (que durou horas e foi muito produtiva), ele me disse que atualmente tem voltado seu trabalho com duas equipes de competição que ele mesmo denomina como:
"Focada" e "Papa Troféu"!

A equipe
"Focada", são aqueles tenistas que buscam experiência nacional e internacional, que participam de torneios mais fortes e que não se preocupam com resultados imediatos. São os tenistas que têm como objetivo a profissionalização e ou um intercâmbio.

Já a equipe
"Papa Troféu", como o próprio nome diz, é formada por tenistas que querem ganhar o maior número de torneios possíveis, que querem colocar mais um troféu na estante de seu quarto e que não têm como meta a profissionalização.

Quando perguntei à ele, com qual ele gostava mais de trabalhar, a resposta foi clara:
"Com a Focada!". Claro que não fiquei surpreso com a sua resposta, mas o que me surpreendeu mesmo foi a explicação do por quê da sua escolha. Ao invés de falar que era pelo fato dos meninos serem mais dedicados, jogarem melhor e serem mais focados, ele disse que sua escolha se dava pelo fato de que na "Papa Troféu" os pais cobravam mais resultados dos seus filhos, quando esses voltavam pra casa sem nada para colocar na estante. E foi ainda mais longe, dizendo que comercialmente falando, a "Papa Troféu" traria um retorno muito maior em exposição na mídia, caso ele explorasse os resultados dos garotos, mas que sua metodologia de trabalho era o da "QUALIDADE" e não da "QUANTIDADE".

Disse ainda que preferia divulgar um resultado expressivo ao mês, que semanalmente divulgar a conquista de um tenista seu em um torneio com apenas 4 tenistas na chave, e assim por diante.

Continuou dizendo que é muito importante
incentivar o atleta para que vença os torneios, que todos mereciam sim ter seus resultados divulgados independente do nível do torneio e da quantidade de inscritos, mas que para isso é necessário ter muito cuidado para que os resultados não "subam à cabeça" dos tenistas e não os iludam de que já são vencedores sem nem terem conquistado nada de concreto ainda.

Finalizou dizendo que muitos juvenis
"tiram o pé do acelerador" e relaxam nos treinamentos quando começam a ganhar muitos torneios e que outros juvenis acham que já estão "jogando muito" pelo fato de vencerem um ou outro torneio menor. Concluiu dizendo que, isso é muito preocupante, pois quando forem para os torneios maiores, a realidade pode ser outra e que um troféu não poderia jamais tomar o lugar do objetivo ou de um sonho.

Concordei com o que ele disse, e quando fui para o hotel naquela noite fiquei pensando em todos os treinadores amigos que tinha atendido nos últimos anos e fiquei imaginando quais deles tinham tentistas
"Focados" e quais tinham os "Papa Troféu". Confesso, que cheguei a conclusão de que eu mesmo já fui um pouco "Papa Troféu" no início da Paralella, quando um ou outro agenciado ganhava um torneio estadual ou local por final de semana e eu fazia questão de divulgar.

Hoje tudo mudou, a maioria de nossos agenciados não estão com o ranking que teriam caso jogassem torneios de menor expressão e só divulgamos os resultados deles nos torneios maiores ou de nível mais forte como as etapas de estaduais e interclubes. A maioria deles estão tentando a sorte nos torneios mais difícieis, as vezes jogando categorias acima das suas e buscando um objetivo traçado por eles e seus treinadores.

Prova disso é a participação dos nossos agenciados em torneios jogando em categorias acima das suas de origem. Por exemplo:

- Higor Silva: com apenas 15 anos fará sua segunda participação em um qualifying de um Future. Sua estréia foi com 14 anos no qualy de Uberlândia;


- Leandro Ribeiro: fez seus primeiros pontos na ATP quando ainda tinha 16 anos;


- Flávia Borges: pontuou na ITF com 15 anos, dando preferência à torneios internacionais;


- Luíza e Mariana Sonnervig: Com 17 anos já haviam disputado diversos qualys de Futures e um qualy de Challenger. Mariana já tem pontos no ranking profissional;


- Stefânia Haddad: com 16 anos, vem disputando torneios na chave de 18 anos;


- Raquel Piltcher e Monique Albuquerque: ainda juvenis integraram a equipe de treinamento da equipe brasileira da FED CUP. Monique integrou o time que foi ao Canadá e participou de uma partida de duplas. Raquel por sua vez já conquistou o vice-campeonato de duplas no Future de Portugal. Ambas têm 17 anos.


Claro que alguns deles, aproveitam suas folgas no calendário para disputarem alguns torneios menores em busca de ritmo, confiança e até como treinamento. O que acho muito válido. Mas, seu foco sempre deverá estar voltado para os torneios mais complicados.

Na minha opinião, quanto mais torneios acontecerem, melhor! Fico feliz quando vejo vários torneios de todos os níveis num mesmo final de semana, isso demonstra que o tênis está crescendo. Parto do princípio que deveriam existir torneios de todos os tipos, para todas as idades, níveis técnicos e categorias, mas que sejam bem organizados e que independente de contar pontos para o ranking ou não, deveriam ser mais prestigiados pelos amantes do tênis.

Acho também que até mesmo os atletas com
alto rendimento, tanto juvenis como em transição, deveriam participar mais dos torneios internos e abertos de seus clubes, academias ou cidades. Alimentando o desejo de outros garotos de um dia quem sabe estarem ali no seu lugar. Desde que, isso não atrapalhe o calendário nem o objetivo traçado anteriormente.

Fico desmotivado quando vejo um garoto ou garota já com uma idade avançada para o tênis, competitivo, que mal orientado pelo seu treinador (se assim podemos chamá-lo), acredita que vencer 1, 2, 3, 4 ou 5 torneios internos, abertos,
"piratas" ou seja lá qual for o nome, comece a se achar uma fera no esporte e o pior, a desmerecer outros colegas de treino. Com isso, o foco passa a ser número de troféus conquistados, a fama que acreditam ter por ganharem "n" torneios e esquecem do principal que é a sequência da sua carreira.

Conheço inúmeros treinadores que fazem de tudo para que seus atletas entendam o verdadeiro significado da palavra
HUMILDADE, esses guerreiros do tênis passam por mals bocados dentro e fora de quadra. Algumas vezes ouvem desaforos de atletas e pais, cuidam de um tenista como se fosse seu filho e na primeira oportunidade que eles têm, abandonam o barco deixando o treinador a ver navios. Respeito imensamente o trabalho deles, pois como diria um velho amigo: "se o tenista joga bem e vence, o mérito é todo dele. Se ele perde e joga mal, a culpa sempre é do treinador!".

Precisamos rever nossos conceitos! Precisamos de mais seriedade nos trabalhos dentro e fora de quadra... Só assim teremos o tênis brasileiro no lugar onde merece.

• Para a garotada refletir:

- Agora é hora de treinar, suar a camisa e ralar muito em busca de um objetivo ou sonho. Os troféus serão conseqüência desse trabalho;

- O que vale mais: um objetivo alcançado ou uma prateleira cheia de troféus?;

- Dá pra se comprar um lugar no topo? E um troféu?

- Seu treinador foi duro com você? Te falou algumas verdades que você não gostou? Escute, assimile e leve contigo para toda a vida, um dia essas críticas vão te servir para muita coisa.

Pense, reflita e defina seus objetivos!


Game, set and match...

Abraços

Claudio



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