O post de hoje é, além de esclarecedor, uma resposta aos absurdos que ouvi e li de um diretor de uma federação estadual de tênis, que me reservo no direito de não dizer o seu nome, para evitar problemas maiores. A situação é um tanto quanto incômoda e quero aproveitar esse espaço para que os leitores do blog leiam, tirem suas conclusões, deêm opiniões e principalmente saibam em que situação deplorável se encontram as maiorias das entidades detentoras e responsáveis pelo tênis no nosso país.
Sei que o assunto vai causar polêmica, posso inclusive sofrer alguns tipos de represálias por expor aqui minha opinião, mas não me preocupo. O que mais quero é que todos nós, amantes do tênis, façamos a nossa parte e continuemos a lutar para que nosso esporte cresça, apareça e fique nas mãos de pessoas corretas que visem apenas benefícios para o tênis e não que olhem para seus próprios umbigos, ou seria "bolsos"?!?
Como adiantei no Twitter (www.twitter.com/claudiomiyamoto), no início da semana recebi um e-mail de uma federação solicitando uma reunião para discutir alguns assuntos sobre marketing. Como estou distante da sede de tal associação, achei por bem fazer um telefonema e me inteirar um pouco mais sobre os interesses deles, saber o que eles necessitavam da Paralella e sobretudo se o fato era real ou apenas especulação.
Fui atendido pela secretária do diretor de comunicação da tal federação. Ele iniciou a conversa com vários elogios sobre o trabalho desenvolvido pela Paralella em prol do tênis, se disse leitor do blog, citando inclusive alguns posts que ele havia gostado. Durante nosso papo, falamos sobre o tênis de uma forma geral, sobre os problemas que a grande maioria das confederações, federações e associações esportivas passam por falta de verba, incentivo e organização. Quando chegamos nesse ponto, ele me disse que sua federação estava querendo se atualizar. Que precisam urgentemente de "sangue novo" na diretoria, e que já estavam em busca de profissionais para diversas áreas, e que no marketing haviam pensado em mim. Fiquei lisonjeado, claro! Todo profissional que se dedica e trabalha duro em prol de alguma coisa, se sente orgulhoso quando recebe elogios ou uma proposta para assumir um novo desafio.
O diretor então perguntou se eu teria o interesse de gerir o marketing de sua entidade. Me falou sobre os benefícios que eu teria e fez uma proposta de salário, que confesso, era bem tentadora. Perguntei à ele quais eram os planos para o tênis daquele estado. Quis saber onde seria investida toda a verba que viríamos a arrecadar com os patrocínios e ações de marketing da federação. Teríamos uma equipe de juvenis que utilizariam esses recursos? Existiria a possibilidade dessa verba ser destinada e dividida entre os melhores tenistas juvenis daquele estado? Haveria disponibilidade de investimento em ações que pudessem aumentar o número de praticantes? A federação já faz ou planeja fazer algum tipo de trabalho social usando o tênis para tirar as crianças carentes das ruas?
Para minha surpresa, a resposta foi direta e reta: "isso não cabe a você decidir. O que a federação irá fazer com os recursos obtidos não diz respeito à você. Pagamos seu salário, você executa seu serviço e traz a "grana" que esperamos. É simples... Não precisa e não deve fazer tantas perguntas. É sim ou não!"
Respirei fundo, contei até 150 mil e mesmo morrendo de vontade de mandá-lo à "merda" (perdoem-me a expressão...), disse que iria pensar e que responderia até sexta-feira (hoje!). Na verdade eu não tinha o que pensar. A resposta já estava na ponta da minha língua, mas eu queria saber até que ponto aquilo poderia chegar. Confesso que passei os dias pensativo. Como eu queria que ele tivesse dado as respostas que eu esperava: "sim, temos um projeto social! A verba vai ser utilizada para o melhor desempenho dos nossos juvenis! Vamos organizar eventos para divulgar e difundir o tênis em nosso estado..." Ou que simplesmente me falasse: "vamos conversar sobre isso com mais calma, temos esse interesse sim!". Mas, não! Ele indiretamente disse tudo ao contrário... e eu tive a certeza de que os recursos seriam utilizados para outros fins e que o foco deles era outro!
Ontem a noite sentei em frente ao pc, comecei a escrever um e-mail "rasgado", falando tudo que eu pensara nos dias anteriores, mas desisti... Pensei melhor e escrevi dizendo que me sentira honrado com o convite, mas que pretendia continuar com meus projetos. Citei que não haveria como conciliar os trabalhos na federação com os trabalhos da Paralella e finalizei me colocando à disposição para ajudar no que fosse necessário, caso a entidade futuramente implantasse os projetos que havia dito à ele por telefone.
Fui dormir tranquilo, com a consciência tranquila. Lutei muito para colocar a Paralella no circuito do tênis. Foram meses de trabalho sem nenhuma retirada. Foram noites e noites acordado pesquisando, falando e negociando com atletas, pais, treinadores, empresários, diretores de marketing, investidores e etc. O início foi árduo, sofrido... Hoje a Paralella não é mais uma marca desconhecida. Tem sua credibilidade, tem sua missão, sua visão e seu valor também. Tem o princípio de trazer recursos ao tênis, contribuir para que ele cresça e não tirar, sugar, usufruir e ou se aproveitar de uma posição ou situação.
Pensei em todos os nossos agenciados. Naqueles que treinam diariamente, faça frio ou calor. Lembrei de quantos de nossos atletas deixam de lado sua infância, para se tornarem muito cedo "trabalhadores do tênis". Pensei nos pais que não medem esforços e que se sacrificam para que seus filhos continuem lutando em busca de seus sonhos. Imaginei os treinadores, que batalham e muitas vezes além de técnicos são psicólogos, amigos, pais, educadores e formadores dessa garotada toda. Abandonar tudo isso para me juntar a uma associação que apesar de teoricamente não ter fins lucrativos, a verba é destinada sabe-se lá para o que? NUNCA!
Acordei aliviado. Tinha feito a escolha certa, sem dúvida alguma.
Ao abrir os meus e-mails na manhã de hoje, recebi uma resposta não muito agradável por parte do diretor "espertalhão". Que em resumo dizia que muitas pessoas gostariam de ter a oportunidade que ele estava me dando e que eu, ao que ele achava um "cara inteligente", estava deixando escapar uma chance de me livrar dos meus "projetinhos" e sim, integrar uma entidade onde "as coisas realmente acontecem". E insistiu: "vou lhe dar uma chance de pensar mais alguns dias e me responder. Tenho a certeza de que ao avaliar bem, verá que o melhor a se fazer é aceitar nossa proposta... Pra que se preocupar com os filhos dos outros? Seja inteligente, pense nos futuros dos seus filhos!"
Mais uma vez eu respirei fundo. Me acalmei e respondi dizendo que talvez eu devesse ser um "burro" mesmo ao desperdiçar uma chance de ganhar um bom salário fazendo o que gosto (marketing, ok? E não o que eles fazem!), com pouco trabalho, pouca dor de cabeça e sem se preocupar com o futuro dos filhos dos outros. E que eu me achava mais "burro" ainda por não entender como uma pessoa com a sua idade, com a sua "bagagem" pudesse se orgulhar do que estava me propondo. Finalizei dizendo que ignorasse minha oferta de ajuda e apoio do e-mail anterior e avisei: "Espero que o Sr. esteja ciente que fiz minha escolha, não volto atrás e pretendo continuar com meus projetos com transparência e honestidade, coisa que talvez tal federação devesse usar como exemplo!".
O fato acontecido comigo, não é um caso isolado. Isso acontece diariamente em associações dos mais variados esportes. Diretores mal intencionados usam o nome de suas federações para benefício próprio, seja retirando e desviando verbas que deveriam ser destinadas ao esporte ou sugando o que podem das mensalidades e anuidades que nós, federados, confederados, atletas e organizadores de eventos esportivos suamos para conseguir.
Digo não! Me recuso a participar de algo que não esteja de acordo com os princípios éticos e morais da minha profissão, que fujam daquilo que aprendi dentro da minha casa com meus pais: caráter e honestidade acima de tudo!
Quero deixar claro que não estou generalizando as federações e seus diretores. É fato que temos sim alguns (raros!) abnegados que ainda acreditam e trabalham em prol do esporte com um único propósito: fazê-lo crescer...
É o que temos pra hoje! Tá bom o pra vocês?
Game, set and match...
Abraços
Claudio