Algumas pessoas bem próximas a mim dizem que eu tenho uma "memória de elefante", que me lembro de coisas que aconteceram há muito e muito tempo. Isso é verdade, tenho uma memória fotográfica, gosto de ficar relembrando coisas boas que passei na vida em certos lugares, com determinadas pessoas e etc. Mas o que isso tem em comum com a Paralella? Muita coisa.
Sábado, após mais de 18 anos, voltei às quadras do clube onde joguei tênis pela primeira vez... Na verdade, onde minha paixão pelo tênis começou. Vocês imaginam como me senti? Dá pra entender que quando pisei naquela quadra vieram várias e várias boas recordações ? Que pensei muito que, se eu nunca tivesse me iniciado no tênis ali, nada do que acontece hoje na minha vida aconteceria?
Pois bem, fiquei uns 20 minutos sentado naquela arquibancada olhando as quadras, lembrando de tudo. Das minhas primeiras aulas na escolinha, das primeiras partidas nos torneios internos e do meu primeiro treino com a equipe de competição do clube. Foram várias lembranças boas, e assim como tudo na vida também vieram algumas lembranças ruins. As partidas que perdi ali, os sonhos que ficaram enterrados naquela quadra e as dificuldades que meus pais tinham em me manter jogando tênis e participando de torneios.
Naquela época tudo era mais complicado. Era difícil conseguir comprar raquetes e equipamentos. Me lembro que comprava um rolo de Tourna Grip por mês. Além de ser muito caro, tinha que ser encomendado com alguém que trazia do Paraguai ou quando um amigo viajava aos Estados Unidos. Muitas e muitas vezes lavei os grips e reutilizei nas raquetes para nao ficar sem... Hoje tudo mudou, existem várias lojas especializadas, os preços são mais acessíveis (poderiam ser muito mais!!!! né??) e teoricamente tudo ficou mais fácil... Teoricamente, porque na prática tudo continua do mesmo jeito.
Os atletas continuam sem patrocínios, os pais ainda sofrem com as dificuldades para manterem vivos os sonhos de seus filhos, alguns treinadores não se comprometem com as carreiras de seus atletas, outros só pensam no salário, as empresas continuam fazendo vista grossa aos pedidos de apoio dos tenistas, os dirigentes continuam batendo cabeça, o governo continua cobrando impostos altíssimos (que encarecem os equipamentos), os tenistas continuam sonhando e na maioria das vezes, seus sonhos (assim como fiz com o meu um dia,) continuam sendo enterrados nas quadras.
É muito duro você ouvir histórias de juvenis que abandonam suas carreiras precocemente por falta de apoio financeiro, por treinarem em mãos erradas e até mesmo por preferirem uma "balada". Pra que eu vou ficar treinando feito um louco se não tenho grana pra viajar e jogar os grandes torneios?
Lido com isso diariamente. Perco o sono quando sei que algum atleta da Paralella está passando por dificuldades ou está prestes a não ter seu contrato renovado com essa ou aquela marca de raquetes, vestuários ou patrocinador. Não é fácil! Costumo dizer que tenho que "pisar em ovos" quando falo com essa garotada, por lidar com os sonhos deles...
Minha maior vontade era poder patrociná-los, investir o recurso que precisam para sustentação de suas carreiras e apostar no futuro de todos eles. Mas, infelizmente ainda não posso fazer isso... Ainda não!
Existem empresários e diretores de empresas que podem e deveriam fazer isso. Deveriam dispor de uma verba para que nossos tenistas pudessem mudar de uma vez por todas a "cara" e a história do tênis brasileiro. O que um juvenil pede?? Eles não pedem muito, não estão preocupados em fazer fortuna... Eles pedem apenas uma oportunidade! Eles se preocupam sim em jogar por mais 10, 15 ou 20 anos e sempre representando o Brasil, nossa terra, nosso país de onde tiramos o nosso sustento. Por que não acreditar neles? Realmente não consigo entender! Eles são puros, às vezes até ingênuos demais e caem na conversa de um ou outro malandro que promete "N" coisas à eles, mas que na hora "H" fogem da raia, deixando o tenista com o seu sonho nas mãos... Sem forças nem vontade de continuar!
Há tempos vinha querendo fazer esse desabafo, há tempos pensava em escrever aqui, doa a quem doer que o tênis é um esporte que precisa de apoio, precisa de patrocínios, precisa de mais empresários de visão que apostem, acreditem e invistam nos juvenis brasileiros. Os que já fazem isso com certeza colhem os frutos de ter sua marca vinculada à um atleta, seja ele de ponta ou não. Os que ainda não fazem isso, continuam perdendo tempo, desperdiçando sua verba de patrocínios em outras coisas que talvez não tragam o retorno que um tenista traria à sua empresa.
É muito fácil colocar sua marca nas mangas do uniforme de um tenista depois que ele já é profissional ou tem grande aparição na mídia. Difícil mesmo é fazer com que esses empresários enxerguem os benefícios que um tenista juvenil também trará à sua marca.
Perdoem-me os empresários de visão, mas é preciso ver o tênis num sentido mais amplo, não só olhar o próprio umbigo... O Brasil tem juvenis de fibra, com muita raça e que estão comprometidos com seu objetivo... Quando um desses juvenis desiste de sua carreira, quem perde com isso é o nosso país.
De uma vez por todas, está na hora de mudarmos essa realidade. Está na hora do tênis brasileiro retomar seu espaço. Material humano para isso temos de sobra, o que nos falta é investimento para que eles possam demonstrar em quadra, o resultado do exaustivo treinamento que têm diariamente.
Minha parte estou tentando fazer, de um jeito ou de outro. Aposto, acredito, luto para que cada um dos agenciados da Paralella tenha seu merecido patrocínio. Sei que todos eles também fazem sua parte. Treinam duro, abrem mão de tudo e não reclamam disso.
Agora só falta que os empresários e governantes façam a parte deles. E é aí que mora o problema!
Até quando vamos ter que esperar para que o tênis juvenil seja reconhecido como deve ser?
A vida é uma caixinha de surpresas! O mundo dá muitas voltas e quem está por cima hoje pode estar por baixo amanhã! Tudo o que desejamos ou fazemos aos outros pode se voltar contra nós um dia! Será? Acho que sim...
Há 20 anos atrás eu estava pedindo apoio, patrocínios e incentivos para continuar jogando, hoje trabalho para que os agenciados não precisem fazer isso. Amanhã pode ser o filho de um desses empresários (que se negam a avaliar nossos projetos) que pode estar precisando de um patrocínio... Quando isso acontecer, espero realmente que se lembrem de que seu filho também poderá ser mais um a enterrar os seus sonhos em uma quadra.
Será? Acho que sim... Mas, sinceramente espero que não!
Game, set and match...
Abraços
Claudio
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Gostaria de terminar o post de hoje agradecendo à todos que mandaram e-mails ou mensagens pelo msn falando sobre o post "Reencontro com uma antiga paixão". Foi muito bacana ler os recados do pessoal, mas gostaria mesmo que isso acontecesse aqui nos comentários do blog para que todos os outros leitores pudessem ler também...
De qualquer forma: VALEU DEMAIS, GALERA!
De qualquer forma: VALEU DEMAIS, GALERA!
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